De brancura estranha, de uma opacidade afásica, a massa de gesso contamina o espaço. Dos olhos ao corpo sentimos a frieza desse material úmido em sua porosidade. Retido o líquido pelo pó, essa pedra de fluidos estancados empresta ameaçadora solidez ao espaço todo branco da sala de exposição. Contatamos ali sua presença, não pelo volume incontornável que se ergue no caminho, mas pelo vazio que se acentua com ela. São esculturas que acolhem em seu modelado a vacuidade do que ela deveria ocupar.
Percorremos esse corpo reversamente fascinados pela superfície rugosa, entrevemos uma lisura que se desfaz num drapeado disforme, mas também a aspereza num buraco em que a matéria desprendida abriu em sua carne de gesso. Há algo de um desconcertante encanto nessa peça quando a percebemos em seu aspecto físico, em sua força plástica, algo que não está nem no virtuosismo habilitado pelo convívio insistente com o material, tampouco numa simplicidade metafísica da matéria. Sua pureza e integridade monocromática são residuais, ecos de uma arte que sonhara com a edificação de mundos, com uma simplicidade ordenadora que se universalizaria em seu ímpeto construtivo. Mas resíduos que se perfazem, que se estabilizam precariamente equilibrados, afirmando incertamente o limite que evitaria a dissolução total da arte num campo de pura irracionalidade informe.
Apegada às colunas impõe sua desorientadora massa branca ao espaço da sala: são de aspecto leve como um corpo calcinado, vagas como a silhueta duma fantasmagoria; ao mesmo tempo, pesadas e concretas. São seres que se tornaram indisponíveis ao brilho fascinante do espetáculo mundano em que se converteu a ‘vida’ contemporânea.
by arteninja