Na tradição cristã a quaresma corresponde ao período preparatório para a celebração do renascimento do Cristo nos festejos da Páscoa. É um tempo em que os fiéis devem dedicar-se à oração, penitência e caridade. Daí que na tradição católica, entre outros ritos, cobrem-se os santos e com isso interrompe-se a mediação que eles representam, para estimular a concentração do crente sobre seus próprios pensamentos e ações, apresentando-se diante do Deus pai sem o apoio da imagem, ou das imagens, sempre cultuadas e auxiliadoras em outras estações do ano. Dessa forma apaga-se a iconografia, a representação, para provar a fé, em quarentena. O interessante é perceber que nesse momento, ao deparar-se com os santos cobertos, apagados do interior do templo, o sujeito tem a oportunidade de estar solitário e frente a frente com a sua realidade, seu corpo e sua alma, humano e sem mediação.
A instalação do artista paulista Carlito Carvalhosa "A soma dos dias" reporta-se a essa mesma idéia ou princípio, que propõe cobrir, apagar, para revelar ou fazer ver. Uma alta e volumosa construção de tecido veste e oculta toda arquitetura do Octógono, fazendo-o desaparecer e, dessa forma, interrompe o fluxo e a percepção habituais no interior do museu. A rigidez da geometria é contraposta por um labirinto de linhas curvas e paredes flutuantes, diáfanas, sensíveis ao vento e ao movimento. Do centro desse outro espaço o museu desaparece e dá lugar a um mundo de vultos e sombras, que se movimentam ao som de uma trilha discreta, mas persistente, de alguma forma familiar ou próxima. O jogo assimétrico de lâmpadas sobre as paredes reforça o rompimento da paridade do espaço original, criando distintas zonas de luz e sombra, e conferindo uma qualidade cinemática a essa nova arquitetura.
A trilha sonora desenhada por Philip Glass, a partir de diferentes composições suas, é a base do tempo instaurado pelo trabalho no interior do museu. Repete-se como um moto contínuo, um tempo interminável, labiríntico, e sobre ela, a cada dia, são registrados os sons incidentais – conversas, passos, movimentos – captados pelos microfones e reproduzidos pelos alto falantes, no mesmo instante. A cada dia um novo registro sobrepõe-se ao do dia anterior, incorporando-o. O acúmulo desses registros, a soma dos dias, constitui a memória da experiência e da passagem do trabalho pela instituição. Ele produz um acontecimento e, simultaneamente, registra e guarda a sua própria presença, a sua história.
A instalação do artista paulista Carlito Carvalhosa "A soma dos dias" reporta-se a essa mesma idéia ou princípio, que propõe cobrir, apagar, para revelar ou fazer ver. Uma alta e volumosa construção de tecido veste e oculta toda arquitetura do Octógono, fazendo-o desaparecer e, dessa forma, interrompe o fluxo e a percepção habituais no interior do museu. A rigidez da geometria é contraposta por um labirinto de linhas curvas e paredes flutuantes, diáfanas, sensíveis ao vento e ao movimento. Do centro desse outro espaço o museu desaparece e dá lugar a um mundo de vultos e sombras, que se movimentam ao som de uma trilha discreta, mas persistente, de alguma forma familiar ou próxima. O jogo assimétrico de lâmpadas sobre as paredes reforça o rompimento da paridade do espaço original, criando distintas zonas de luz e sombra, e conferindo uma qualidade cinemática a essa nova arquitetura.
A trilha sonora desenhada por Philip Glass, a partir de diferentes composições suas, é a base do tempo instaurado pelo trabalho no interior do museu. Repete-se como um moto contínuo, um tempo interminável, labiríntico, e sobre ela, a cada dia, são registrados os sons incidentais – conversas, passos, movimentos – captados pelos microfones e reproduzidos pelos alto falantes, no mesmo instante. A cada dia um novo registro sobrepõe-se ao do dia anterior, incorporando-o. O acúmulo desses registros, a soma dos dias, constitui a memória da experiência e da passagem do trabalho pela instituição. Ele produz um acontecimento e, simultaneamente, registra e guarda a sua própria presença, a sua história.