trecho do texto publicado no livro Carlito Carvalhosa, Cosac & Naify, São Paulo, 2000
Carlito Carvalhosa procura o essencial sem acreditar em essências. Ser substancial tornou-se um atributo como outros, porque no horizonte de todo processo de simplificação já não há uma idéia universal, mas a mera redução ao nada. Por isso, as formas chegam tanto mais próximo de seu fundamento quanto mais fogem de uma definição, de um sentido unívoco que as abranja. Toda depuração, agora, comporta necessariamente um esvaziamento, ao qual o artista reage criando novos acidentes, que por sua vez deverão passar por um novo enxugamento que de novo os esvazie.
A obra de Carlito encarna esse círculo metódico de maneira exemplar: não por acaso, seus materiais costumam ser dóceis, miméticos, sem caráter definido, e por isso mesmo sensíveis ao mínimo acidente. Nas cores, prevalece o branco e o translúcido, uma aniquilação cromática que gera um espectro sempre cambiante de variações luminosas. As formas remetem sempre a alguma coisa, sem no entanto imitar nada. O resultado final revela o processo de construção da obra, mas também o falsifica, alterando os dados sobre a consistência dos materiais, o peso, o esforço necessário. A verdade da obra se situa, assim, num território indefinido entre o nada e a anedota, a singularidade sem importância e a generalidade oca.
Não há outra saída: se a obra não quiser ser idéia, e tampouco mero comentário de um universo de signos já estabelecido, o que lhe resta é um não-lugar, um lusco-fusco entre domínios diferentes. O artista tenta definir esse lugar vago da maneira mais rigorosa possível, mas não pode transformá-lo numa negação pura, inatingível, que seria apenas um outro lugar, uma postura entre outras. Ao contrário, é obrigado a deixar espaço a quedas, a conluios com o kitsch, com o óbvio. O desafio, ainda hoje, é deixar as coisas indefinidas.
Carlito Carvalhosa procura o essencial sem acreditar em essências. Ser substancial tornou-se um atributo como outros, porque no horizonte de todo processo de simplificação já não há uma idéia universal, mas a mera redução ao nada. Por isso, as formas chegam tanto mais próximo de seu fundamento quanto mais fogem de uma definição, de um sentido unívoco que as abranja. Toda depuração, agora, comporta necessariamente um esvaziamento, ao qual o artista reage criando novos acidentes, que por sua vez deverão passar por um novo enxugamento que de novo os esvazie.
A obra de Carlito encarna esse círculo metódico de maneira exemplar: não por acaso, seus materiais costumam ser dóceis, miméticos, sem caráter definido, e por isso mesmo sensíveis ao mínimo acidente. Nas cores, prevalece o branco e o translúcido, uma aniquilação cromática que gera um espectro sempre cambiante de variações luminosas. As formas remetem sempre a alguma coisa, sem no entanto imitar nada. O resultado final revela o processo de construção da obra, mas também o falsifica, alterando os dados sobre a consistência dos materiais, o peso, o esforço necessário. A verdade da obra se situa, assim, num território indefinido entre o nada e a anedota, a singularidade sem importância e a generalidade oca.
Não há outra saída: se a obra não quiser ser idéia, e tampouco mero comentário de um universo de signos já estabelecido, o que lhe resta é um não-lugar, um lusco-fusco entre domínios diferentes. O artista tenta definir esse lugar vago da maneira mais rigorosa possível, mas não pode transformá-lo numa negação pura, inatingível, que seria apenas um outro lugar, uma postura entre outras. Ao contrário, é obrigado a deixar espaço a quedas, a conluios com o kitsch, com o óbvio. O desafio, ainda hoje, é deixar as coisas indefinidas.