Oxalá é o pai os orixás, responsável por modelar os homens com a massa de inhame pilado. Divindade da paz, que se veste de branco e tem como dia a sexta-feira, Oxalá é adorado através de diversos rituais e obrigações. Um destes rituais acontece durante a festa de Oxalá em um momento onde todos os orixás e pessoas iniciadas passeiam pelo barracão do terreiro sob um grande manto branco, o “Alá de Oxalá”, louvando o orixá e recebendo seu axé sob o toque lento dos atabaques. Um sentimento de paz e serenidade toma conta das pessoas que ficam sob o "Alá de Oxalá".
Foi este mesmo sentimento que tive ao adentrar a instalação “Apagador” no Museu de Arte Moderna da Bahia, edificação do século XVI, por onde passaram inúmeros escravos vindos da África. Todas as salas da Capela do MAM estavam ocupadas com enormes volumes brancos de tecido, que iam do teto ao chão, próximos às paredes. Para percorrer o trabalho era necessário caminhar pelos estreitos corredores, se roçando entre as cortinas e a parede, e depois entrar na obra, passando por baixo dos panos e, dessa forma, se posicionando no centro de grandes espaços diáfanos, cubos brancos, formados pelos tecidos.
No interior da instalação não somente a arquitetura da Capela se apagava, mas também, os sentimentos ruins e preocupações, levando o espectador a um estágio de contemplação e de paz muito similar ao provocado pelo ritual de Oxalá. Esta sensação era potencializada por estarmos em uma igreja, que em Salvador também é local de adoração aos Orixás, devido ao sincretismo baiano. Epababá!! Exêê!
Exu é o orixá mensageiro, que abre os caminhos. Apesar de ser o mais jovem entre as divindades do Candomblé, conquistou o direito de ser o primeiro a comer e deve ser agradado antes de todos. Exú mora nas encruzilhadas, come galo, dendê, toma cachaça, gosta de dinheiro, de festas e uma de suas árvores sagradas é a Aroeira. A exposição “Roteiro para Visitação”, contava com três grandes trabalhos distribuídos pelos espaços do primeiro andar do Palácio da Aclamação. O local que já foi morada de governadores fica localizado em uma encruzilhada no centro de Salvador.
O primeiro trabalho era justamente uma enorme Aroeira, suspensa a 2 metros do chão no meio do imponente Hall de entrada do Palácio. Juntamente com esta magnífica árvore, dois postes de luz suspensos, de 9 metros cada, transformavam o conjunto numa espécie de tridente, ferramenta que pertence a Exú.
O impacto visual e a densidade poética desta peça ocuparam o Palácio da Aclamação por longos sete meses, número de Exú. Após este período, a árvore foi replantada no jardim da parte exterior do Palácio, onde se encontra até hoje. Uma árvore, que normalmente nasce, cresce e morre fincada a terra por raízes e da própria terra se alimenta, colocada suspensa em um local nobre, quase celestial. Isto é obra de Exú, o mensageiro que atua entre o Céu e a Terra!
O segundo trabalho foi feito na Sala de Banquetes, ocupada por três longas mesas de madeira de lei, adornada por lustres de cristais e decorada por afrescos. Postes que já foram aroeiras e depois serviram para iluminar os caminhos, como faz Exu, se transformaram em uma espécie de cruz caída, que atravessava com violência poética de um lado a outro a arquitetura do edifício, transpassando janelas e portas, contrastando com a nobreza dos móveis e objetos decorativos.
O último trabalho era na varanda e no Salão Nobre do Palácio, que funcionou no passado como local de festas, bailes, velórios de autoridades, entre outras atividades regidas por Exu. Do chão ao teto centenas de barrotes de madeira formavam uma floresta seca, sem folhas, em relação com o entorno do prédio e seu jardim.
No meio dessa sala, um enorme e imponente lustre de cristal resiste imponentemente aos “espetos” fincados na opulência histórica e visual daquele espaço. Como nos bonecos de vodu, espetados, exorcizando os próprios resquícios elitistas da criação do artista, colocando-o em contato com o essencial da arte, abrindo seus caminhos para o mundo. Laroyê! Mojubá!
Os Orixás regem tudo. Oxalá, assim como Exu, são os únicos orixás que todas as pessoas possuem. Mesmo quem não tem a percepção desse fato, tem os Orixás no caminho.
Salvador, Fevereiro de 2011.
Daniel Rangel
Curador
Foi este mesmo sentimento que tive ao adentrar a instalação “Apagador” no Museu de Arte Moderna da Bahia, edificação do século XVI, por onde passaram inúmeros escravos vindos da África. Todas as salas da Capela do MAM estavam ocupadas com enormes volumes brancos de tecido, que iam do teto ao chão, próximos às paredes. Para percorrer o trabalho era necessário caminhar pelos estreitos corredores, se roçando entre as cortinas e a parede, e depois entrar na obra, passando por baixo dos panos e, dessa forma, se posicionando no centro de grandes espaços diáfanos, cubos brancos, formados pelos tecidos.
No interior da instalação não somente a arquitetura da Capela se apagava, mas também, os sentimentos ruins e preocupações, levando o espectador a um estágio de contemplação e de paz muito similar ao provocado pelo ritual de Oxalá. Esta sensação era potencializada por estarmos em uma igreja, que em Salvador também é local de adoração aos Orixás, devido ao sincretismo baiano. Epababá!! Exêê!
Exu é o orixá mensageiro, que abre os caminhos. Apesar de ser o mais jovem entre as divindades do Candomblé, conquistou o direito de ser o primeiro a comer e deve ser agradado antes de todos. Exú mora nas encruzilhadas, come galo, dendê, toma cachaça, gosta de dinheiro, de festas e uma de suas árvores sagradas é a Aroeira. A exposição “Roteiro para Visitação”, contava com três grandes trabalhos distribuídos pelos espaços do primeiro andar do Palácio da Aclamação. O local que já foi morada de governadores fica localizado em uma encruzilhada no centro de Salvador.
O primeiro trabalho era justamente uma enorme Aroeira, suspensa a 2 metros do chão no meio do imponente Hall de entrada do Palácio. Juntamente com esta magnífica árvore, dois postes de luz suspensos, de 9 metros cada, transformavam o conjunto numa espécie de tridente, ferramenta que pertence a Exú.
O impacto visual e a densidade poética desta peça ocuparam o Palácio da Aclamação por longos sete meses, número de Exú. Após este período, a árvore foi replantada no jardim da parte exterior do Palácio, onde se encontra até hoje. Uma árvore, que normalmente nasce, cresce e morre fincada a terra por raízes e da própria terra se alimenta, colocada suspensa em um local nobre, quase celestial. Isto é obra de Exú, o mensageiro que atua entre o Céu e a Terra!
O segundo trabalho foi feito na Sala de Banquetes, ocupada por três longas mesas de madeira de lei, adornada por lustres de cristais e decorada por afrescos. Postes que já foram aroeiras e depois serviram para iluminar os caminhos, como faz Exu, se transformaram em uma espécie de cruz caída, que atravessava com violência poética de um lado a outro a arquitetura do edifício, transpassando janelas e portas, contrastando com a nobreza dos móveis e objetos decorativos.
O último trabalho era na varanda e no Salão Nobre do Palácio, que funcionou no passado como local de festas, bailes, velórios de autoridades, entre outras atividades regidas por Exu. Do chão ao teto centenas de barrotes de madeira formavam uma floresta seca, sem folhas, em relação com o entorno do prédio e seu jardim.
No meio dessa sala, um enorme e imponente lustre de cristal resiste imponentemente aos “espetos” fincados na opulência histórica e visual daquele espaço. Como nos bonecos de vodu, espetados, exorcizando os próprios resquícios elitistas da criação do artista, colocando-o em contato com o essencial da arte, abrindo seus caminhos para o mundo. Laroyê! Mojubá!
Os Orixás regem tudo. Oxalá, assim como Exu, são os únicos orixás que todas as pessoas possuem. Mesmo quem não tem a percepção desse fato, tem os Orixás no caminho.
Salvador, Fevereiro de 2011.
Daniel Rangel
Curador