Concebido para a Capela de N. S. da Conceição, no Solar do Unhão, o Apagador de Carlito Carvalhosa abre, pela neutralização de sua arquitetura interna, outras possibilidades de percepção sensível e de renovação simbólica desse espaço ainda marcado por sua antiga função religiosa. Panos de TNT, pendentes dos tetos até uns 40 cm do chão e afastados em igual distância das paredes internas dos principais espaços do velho templo, criam frágeis salas dentro das naves, torres e demais espaços, que separam suas áreas daquelas criadas pelo artista, repetindo, em escala um pouco menor, os volumes originais.
Ao instalar nos espaços desnudos da capela dez cubos de grande escala, Carlito bloqueia fisicamente portas, janelas e escadas. Apaga a circulação direta do espectador através do edifício.Toda circulação agora se faz por meio dos estreitos intervalos deixados pelo artista entre o piso e os panos translúcidos que pendem dos tetos (que obrigam o visitante a abaixar-se para penetrar nas imaculadas entranhas da instalação) e o intervalo contínuo entre estes e as pesadas paredes de taipa que a contém.
Estes intervalos, que fragmentam a articulação funcional do conjunto arquitetônico da capela, são vitais para o sentido poético do trabalho, já que reconectam de outro modo as diversas áreas que a compõem. São intervalos destinados somente à circulação e ao devaneio poéticos. As paredes de pano branco e translúcido instaladas, reduzem, temporariamente, a planta original a um âmago luminoso e movente, outrora invisível, ocupado pelo público que ali está para ver. Luzes, sombras, leveza, peso, transparência, opacidade, movimento, repouso, em variações sutis provocadas pelo vento, pelos corpos visitantes e pelas oscilações da luminosidade externa, envolvem o espectador.
Entre o Apagador e a capela é possível estabelecer relações de outro tipo, distantes de uma apreensão formal estrita. Não devemos ignorar o sentido semântico que resulta da etérea tensão entre a história do espaço e seu apagamento efetivado por Carlito Carvalhosa. Há, portanto, também, um intervalo que se dá na inversão do sentido sagrado do edifício para o sentido profano da arte. Intervalo que preserva, contudo, a possibilidade de vivenciarmos a transcendência no mundo laico, por meio da experimentação e reflexão do artista e da experiência e sensação do público frente ao trabalho.
Rio de Janeiro, março de 2010
Ao instalar nos espaços desnudos da capela dez cubos de grande escala, Carlito bloqueia fisicamente portas, janelas e escadas. Apaga a circulação direta do espectador através do edifício.Toda circulação agora se faz por meio dos estreitos intervalos deixados pelo artista entre o piso e os panos translúcidos que pendem dos tetos (que obrigam o visitante a abaixar-se para penetrar nas imaculadas entranhas da instalação) e o intervalo contínuo entre estes e as pesadas paredes de taipa que a contém.
Estes intervalos, que fragmentam a articulação funcional do conjunto arquitetônico da capela, são vitais para o sentido poético do trabalho, já que reconectam de outro modo as diversas áreas que a compõem. São intervalos destinados somente à circulação e ao devaneio poéticos. As paredes de pano branco e translúcido instaladas, reduzem, temporariamente, a planta original a um âmago luminoso e movente, outrora invisível, ocupado pelo público que ali está para ver. Luzes, sombras, leveza, peso, transparência, opacidade, movimento, repouso, em variações sutis provocadas pelo vento, pelos corpos visitantes e pelas oscilações da luminosidade externa, envolvem o espectador.
Entre o Apagador e a capela é possível estabelecer relações de outro tipo, distantes de uma apreensão formal estrita. Não devemos ignorar o sentido semântico que resulta da etérea tensão entre a história do espaço e seu apagamento efetivado por Carlito Carvalhosa. Há, portanto, também, um intervalo que se dá na inversão do sentido sagrado do edifício para o sentido profano da arte. Intervalo que preserva, contudo, a possibilidade de vivenciarmos a transcendência no mundo laico, por meio da experimentação e reflexão do artista e da experiência e sensação do público frente ao trabalho.
Rio de Janeiro, março de 2010